Abenepi-Rio

Associação Brasileira de Neurologia e Psiquiatria Infantil e Profissões Afins

Seu adolescente anda irritado?

ELISA BICHELS

O comportamento agressivo verbal e físico em casa e na escola não é incomum em adolescentes. Especialmente pais reclamam que esses comportamentos são específicos dentro de casa. Não se pode esquecer que para desenvolver o seu senso de individualidade e independência, os adolescentes são biologicamente e socialmente programados para ignorar o sistema. Essas especificações são orgânicas, por isso, você pai, consiga não tomar a agressividade do seu filho como “pessoal”. Lembre-se , independente do que ele goste ou não, será sempre você na vida dele. Costumo aconselhar os pais a dizerem: “Poxa filho… Você queria que sua mãe fosse a tia Fulana porque você me odeia muito? Sinto muito por você, pois sou eu mesma que você terá que aturar pro resto da vida. Aceita isso que é mais fácil!”.

É esperada “alguma” agressão e oposição dos adolescentes. Eles crescem se opondo as regras. Assim, se individualizam de seus pais. “, diz John Mayer, Ph.D., um psicólogo clínico em Chicago que trata adolescentes violentos.

Mas isso não significa que devemos aceitar o comportamento agressivo como “normal”, diz o mesmo Dr. Mayer. Evitar o conflito e tentar manter-se coerente e não-irritado, é função dos pais, como adultos naquela relação. Se você como pai, cair na agressividade e incoerência do seu filho adolescente, apenas reforçará que aquele comportamento agressivo é funcional tanto para ele, quanto para você. Então pense: Você também é agressivo na sua rotina? Em vez de tentar reestruturar conflitos pela palavra você desregula sua emoção, agredindo? Seu filho “aprende” por observação de comportamentos seus. Fique atento! Não cobre de seu filho algo que você o fez observar.

Quando as coisas não vão do jeito que seu filho deseja, quando ele se recusa a seguir as regras da sua casa e entregar seu celular de noite, por exemplo, você pode sentir-se desconfortável diante um adolescente assustadoramente irritado que é atualmente até maior e mais forte do que você.

Olhar para um filho e pensar; “Credo! Cadê aquele meu filhinho doce e sorridente? E como, quando esse monstrinho despertou dentro do meu filho e eu nem vi?”. E envolvido nesses pensamentos automáticos e necessidade imediata de resposta, você apenas REAGE ao invés de RESPONDER e cai na “pegadinha”! Reforça o comportamento agressivo na hora! Ponto pro filho! Zero para comportamento funcional.

Diante de uma situação constrangedora você sempre terá duas opções de resposta as crises do seu filho adolescente:

  1. REAGIR = Resposta automática, emocional, impensada e muitas vezes, incoerente e disfuncional;
  2. RESPONDER = Resposta consciente, funcional, estruturada e coerente.

Não somos perfeitos então não se julgue! Permita-se errar, reagir e voltar atrás, se precisar, peça desculpa. Além disso, você pode se preocupar também com os efeitos daquele comportamento fora da família. O comportamento agressivo pode surgir como uma raiva “da vida” ou afetar negativamente a personalidade dele como um todo, sua vida social, a escolaridade futura, o trabalho ou os relacionamentos? Não pense no amanhã, nesse instante. Pais tendem a catastrofizar demais quando filhos estão desregulados emocionalmente. Fique atento! Comportamentos vão e vem. Você como pai está ali para direcionar esses comportamentos. Nós também já fomos adolescentes e sobrevivemos! Nossos pais também sobreviveram. Você sobreviverá!

É normal lutar com a disciplina de um adolescente. Desconfie sim quando você estiver frente a frente com um adolescente certinho demais. Eles são raros! Basearmos nossa ajuda a eles numa disciplina consciente e funcional, com muita empatia, carinho e entendimento é o melhor caminho. O ideal para pais se chama “o que é possível diante dos limites individuais de cada um”. Respeite-se como pessoa e você conseguirá a respeitar seu filho.

Pense: O que eu não gostaria que alguém fizesse e dissesse para mim, é o meu lema para tratar o meu filho adolescente. O trabalho do seu filho é desafiá-lo. E é seu trabalho como pai ou mãe, organizar e orientar suas ações de maneira funcional para a vida dele. Concentre-se na definição de “limites efetivos” que não se desintegrarão porque você naquele instante se sente ferido ou culpado diante de uma oposição de seu filho, pois você já entendeu que é por conta de uma fase normal de desenvolvimento dele. Lembre-se, você está estabelecendo limites para ajudar seu adolescente a navegar sozinho no mundo adulto e, mais tarde, apenas orientar suas decisões, não privando-o de consciência e responsabilidade nos seus atos e prazer.

Faça acontecer!

PRIMEIRO PASSO: Estabeleça limites claros e expectativas.

Quando seu filho adolescente age, digamos, gritando com a irmã, não o ignore. Fale para ele, descrevendo seu comportamento e faça-o pensar naquilo que ele fez. Responsabilize-o sob aquele comportamento. “Você acha que o aumento da sua voz resolveu seu problema com sua irmã? Gritar realmente a convenceu de lhe emprestar seu carregador de celular?”. Comunique expectativas claras e previsíveis que ajudarão a resolver esse comportamento dele. “Quando você quiser algo de alguém e você
precisa ter aquilo, peça de forma educada e com um jeitinho para a pessoa entender que vale a pena ficar sem o objeto e te emprestar. Só assim você chegará ao seu objetivo de fato. É assim com a sua irmã será assim com qualquer pessoa. Fale com jeito e humildade que você conseguirá o que quer, na maioria das vezes
.”

Comunicar e implementar consequências para comportamentos inaceitáveis às vezes pode ajudar. Por exemplo, você pode responsabilizar seu filho adolescente dizendo que gritar não é permitido e enviá-la para o quarto até que ela se acalme. Ou você pode reter seu celular por 2hs (sempre com tempo pré-determinado e tempo curto) ou você pode desligar o Wi-Fi por 1 dia. Ok! Consequências são consequências, eles aprendem com elas também.

A chave é manter a sua calma, consistente, funcional e previsível. Pais imprevisíveis formam filhos com comportamentos imprevisíveis também. Estabilidade e constância nas suas reações equilibrarão qualquer ansiedade em seu filho. Estabilidade gera segurança. Segurança é o que filhos precisam SEMPRE, não apenas na adolescência.

Se seu filho ainda atua, grita, se opõe a você, não o jogue mais para baixo por favor, o ofendendo, “metendo o dedo na ferida”. Ele está instável, você tá vendo isso! Não transforme as coisas piores do que já estão. Deve haver uma linha “imaginária” entre pais e filhos. É a linha de responsabilidade paternal. E é você pai que controla essa linha. Se você não der conta de tudo que ele está te falando, coloque-o no quarto e diga: “Vamos conversar depois!” e você, saia de cena, se afaste.

PASSO DOIS: Respire fundo e descubra um jeito de você se acalmar!

Em vez de começar imediatamente a “Por que você está agindo dessa maneira? O que há de errado com você?, não o julgue. Quando seu adolescente é julgado, você e ele perdem, você cria uma distância emocional com a raiva adolescente. Respire você! Modele o comportamento dele com o seu comportamento. Force uma respiração consciente em você. Faça-o perceber isso! Que ele veja você tentando se acalmar. Filhos aprendem mais com o que veem do que com que pais falam! Pergunte a si mesmo: quais emoções e sensações estou sentindo? O que está por trás do comportamento do meu filho? Por que ele está sofrendo? Se você buscar uma sensação de curiosidade e compaixão nas reações tempestivas dele, qualquer reação dele fará você se concentrar no comportamento dele, e descrevê-lo. E a sua resposta será adaptativa ao comportamento não uma reação imediata a aquilo que a reação dele suscitou em você. Entenda: dessa forma você estará se defendendo e defendendo a relação de vocês dois. Ótimo! É essa a sua função como pai: protege-lo sempre!

PASSO TRES: Dê um passo atrás!

Saia de cena. Isso também pode ajudá-lo a entender o que você está fazendo. Hormônios adolescentes, fim de ano, período de provas e apresentações, fim de relacionamentos e privação de sono podem inflamar explosões adolescentes.

Quando seu filho adolescente começar a sair a noite, dormir na casa de amigos, defina as diretrizes gerais, escreva tudo num papel e depois discuta com ele os detalhes. Uma vez que vocês compartilham suas próprias prioridades (eu quero chegar a hora que meus amigos chegarem, quero estar conectado até a meia-noite porque meus amigos estão lá também, quero ir a festa de taxi com meus amigos e não quero que você me leve nem me busque), o próximo passo é negociar com ele os “seus limites”. Já entre sabendo que essa é a pior parte: negociar com adolescentes. Essa batalha será constante a partir de agora. Você pode sugerir ter vários telefones de amigos dele – incluindo os pais – e ele marcar os telefones de cada um deles, a cada noite. Se possível, alinhe as consequências para a quebra das regras também juntos. Lembre-se que quanto mais segurança sobre atos e consequência seu filho adolescente tiver, (mesmo você sabendo de antemão que seu filho irá burlar regras) será mais fácil de você agir! Quando os acordos são criados em conjunto, a quantidade de consequências e o policiamento necessários serão consideravelmente menores. Mais uma vez, não deixe de lado as consequências quando você está chateado. Lembre que sua estabilidade é funcional para a estabilidade dele. Nunca crie castigos diretamente após uma briga turbulenta. Melhor não falar e aguardar vocês se acalmarem do que você “REAJIR” impulsivamente.

PASSO QUATRO: Respostas e Consequências são para educar ensinando seu filho para a vida inteira, não puni-lo por aquilo que ele apenas fez negativamente hoje!

Use as consequências razoáveis. A melhor resposta a um comportamento é uma consequência natural. Novamente, concentre-se principalmente na forma como você dá a resposta ao comportamento. Em tempos emocionalmente desregulados, nós acabamos dando aos nossos adolescentes todas as pistas para que eles ajam como bem entendem. Quando gritamos e ameaçamos, eles respondem dizendo que estão reproduzindo a mesma desregulação que você! Estamos escolhendo sobre eles. A consequência, em seguida, torna-se essencialmente sobre a nossa perturbação, não ao comportamento dele. Por isso você que precisa também se respeitar. Calma! Recomponha-se para dar uma punição ou castigo. Responda ao comportamento dele quando você estiver se sentindo razoavelmente estável. Mantenha-se bem. Como pai, o que você age é ainda mais importante do que o que você diz. Em vez de jogar gasolina na raiva, ficando ofendido, tente manter a calma o máximo possível. Respire. Pense antes de falar. Não deixe suas emoções dominar.

PASSO CINCO: Ouça muito seu filho e “ignore” os gatilhos dele, entenda e observe!

Não fique no pessoal. Os adolescentes serão muito rápidos em ouvir algo de acusador:” Foi você cometeu esse erro, não eu; Foi você que me irritou mais! Essa sua regra é ridícula!“. Tenha o hábito de se concentrar em sua própria experiência usando auto-instruções: “ Observo que meu filho está irritado. Observo que meu filho está inseguro. (categorize e nomeie mentalmente a emoção dele) É ele que está irritado. Não eu! Ele quer me tirar do sério, me ofendendo. Mas sei que não é pessoal. O comportamento dele está me dizendo algo. Preciso entender para depois responder a ele.” Pais são cheio de crenças disfuncionais a respeito aos seus comportamentos e dos outros. Observe os seus. Observe. Não permita que suas crenças com relação a vida, influencie negativamente no relacionamento com seu filho. “Sinto-me invalidado quando já estou a mesa e ele não vem comer quando o chamo”. “Me sinto desrespeitado quando ele me responde debochando.” “Quando ele imita gay, penso que ele se transformará em um homossexual e isso me incomoda muito, sou preconceituoso.” “Quando peço para ele desligar o celular e ir dormir e ele me desobedece, sei que ele fará isso quando seu chefe pedir algo e é meu dever resolver isso pois sei que chefes são cruéis.”

Seja real nas suas emoções. Converse sobre o que você está sentindo com seu filho. A verdade é sempre o seu maior trunfo. Use-a!Nossa filho, fico tão triste quando você grita e me ofende dessa forma. Ok. Já entendi que você não está bem. Vai pro seu quarto, respire e daqui a 20 mins recomeçamos essa conversa.” “Você sairá para essa festa que eu não confio. Você sabe que está por sua conta e risco. Estou deixando você ir mesmo extremamente preocupado. Ficarei aqui acordado até você chegar. Divirta-se!” DIGA E FAÇA. Não adianta nada você dizer que o esperará acordado e dormir. “Mentiras” bem intencionadas só prestam para que eles tenham razão em não confiarem nos pais. Quando ele sabe que você o esperará, ele se sentirá seguro na festa, sabendo que você está atento a ele, ele se sentirá “independente”, você estará capacitando-o com responsabilidade . PONTO para você!

Conheça no meio onde ele anda e está. Se aproxime dos amigos. Traga-os para sua casa, perto de você. Pais precisam se comprometer para que todos possam ganhar. Pense antecipadamente sobre onde você está disposto a ir. Peça ajuda para seu companheiro/a. Você também precisa abandonar alguns preconceitos para que você e seu filho adolescentes possam se sentir bem em algum lugar, ou com uma decisão. Ache esse lugar de conforto para os dois. Saia com seu filho 1 vez por mês sozinho. Curta e se esforce para curtir isso. Vocês precisam ter algo em comum. Se até hoje, chegou a adolescência, e você e seu filho não tem nada nada nada em comum porque você esqueceu de cavar isso, nunca é tarde! Arregace as mangas e corra atrás do prejuízo! Cave algo que ele goste e se interesse, estude o “ponto”, tente e retente acessá-lo até seu filho te dar uma brecha. Não será fácil mas não desista. Você não gostaria que seu pai desistisse de você. Você não gostaria que num sufoco alguém que você goste e se preocupa com você desista. Pais nunca devem desistir de filhos. Devem pensar nisso antes de tê-los.

Não se desculpe demais. Se você realmente perdeu o controle ou disse coisas que não deveria ter, talvez seja necessário dizer que você está arrependido , e é bom modelar para seus filhos quando é apropriado pedir desculpas. Se você não pede desculpas, seu filho dirá: “Mãe pra que preciso pedir desculpas para o meu pai, eu nunca vi meu pai pedir desculpas nem par você!! Eu não tenho nenhuma obrigação de ser “bonzinho” porque meu pai não é comigo nem com ninguém!

Mas você não precisa se desculpar por discordar ou ter uma briga. Basta se desculpar pela forma que você como pai se comportou. Selecione situações muito importantes, releve outras. Entre numa briga com seu filho que valha realmente a pena. Lembre-se que você precisa ser o mais inteligente da relação. O responsável por essa relação é unicamente você. Torne essa relação de pais e filhos agradáveis para uma vida inteira. Agora ele está perto, se você fizer direito ele sempre estará por perto, inclusive na sua velhice. Se você não o trouxer para uma relação bacana, a adolescência acabará e ele se afastará. Relação ruins não nos fazem bem. Nem a eles. Construa coisas boas com eles que eles construirão não só uma vida futura boa para eles, tão quanto para vocês quando pais, avós…

Agora, mãos a obra! Essa escultura “filho” é a obra da sua vida. Esculpa valores. Desenhe emoções boas. Tenha orgulho do seu trabalho mas trabalho bem feito só acontece com esforço, dedicação, empenho, disponibilidade e capricho. Trabalho bem feito começa com uma boa atitude e querer fazer certo e bem feito. Você consegue! Seu pai conseguiu com você! Acredite! Sempre, em qualquer tempo, pode melhorar! Foque na relação de vocês, peça ajuda, procure um profissional. Você vai conseguir controlar a tempestade! Ela passa!

Livro: Helping Your Angry Teen , de Wellesley, Massachusetts

Deixe um comentário